Quatro caminhos
Quatro caminhos abertos
P'ra prever qualquer viagem
Virada p'rós quatro pontos
Dos cardeais das aragens
Quatro caminhos perdidos
Quem sabe até se existiram
Estão no rasto de outros passos
Que deles não se serviram
Quatro caminhos à espera
Do tempo que os vem trazer
Dois foram dados á vida
E outros dois ao morrer;
Quatro caminhos traçados
Aqui na palma da mão
Prevêm vidas e mortes
Dias sim e dias não
Quatro caminhos…
(Ana Laíns-Luís Repressas) (Poema de Fernando Pessoa)
Não sei o quê desgosta
Não sei o quê desgosta
A minha alma doente.
Uma dor suposta
Dói-me realmente.
Como um barco absorto
Em se naufragar
À vista do porto
E num calmo mar,
Por meu ser me afundo,
Pra longe da vista
Durmo o incerto mundo.
Chorava por te não ver,
por te ver eu choro agora,
mas choro só por querer,
querer ver-te a toda a hora.
Passa o tempo de corrida,
quando falas eu te escuto,
nas horas da nossa vida,
cada hora é um minuto.
Quando estás a ao pé de mim,
sinto-me dona do mundo.
mas o tempo é tão ruim,
tem cada hora um segundo.
Deixa-te de estar a meu lado
e não mais te vás embora
para meu coração coitado
viver na vida uma hora.
Eu
Eu sou a que no mundo anda perdida
Eu sou a que na vida não tem norte
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida
Sombra de névoa ténue e esvanecida
E que o destino amargo, triste e forte
Impele brutalmente para a morte
Alma de luto sempre incompreendida
Sou aquela que passa e ninguém vê
Sou a que chamam triste sem o ser
Sou a que chora sem saber porquê
Sou talvez a visão que Alguém sonhou
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!
Roseiral
Meu roseiral
Há uma rosa que floriu de manhã
No pedestal
Há um símbolo duma imagem pagã
Ponho o meu som
A fluír nos horizontes de mim
Sobe de tom
Esta voz que me anuncia o meu fim
Vou sendo assim tal e qual a natrureza me fez
Até que um dia perdido de vez
Eu vá deixar de sonhar;
Vou sendo assim, um peão que julga ser defensor
Num xadrês, onde ser peça menor
Nunca me deu que pensar, desde que eu possa sonhar
Os anos são
Duas asas a bater sem cessar
P'ra onde vão
P'ra algures donde não podem voltar
Algo de mim
Reclama a eternidade do ser
Génio ruím
Que me ganhou na ilusão de me perder
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